Certo dia, um jovem rapaz lamenta-se de como era tão difícil ser notado e compreendido. Por mais que se esforçasse para ser escutado, dando a sua opinião e as suas ideias, parecia que não era ouvido. O rapaz bem se esforçava para dar o seu ponto de vista, mas a maioria das pessoas do seu círculo de amizades ou não aceitavam as suas ideias ou simplesmente ignoravam o que dizia.
Desanimado com a vida e com as pessoas, decidiu procurar um mestre zen para ajudá-lo. Esse mestre era conhecido nas redondezas pela sua simplicidade e sabedoria, e vivia isolado rodeado de natureza numa encosta de uma verdejante montanha.
Após subir toda a manhã a montanha, o jovem finalmente chegou perto da cabana do velho mestre. Quando o avistou disse-lhe:
- Venho aqui mestre, porque sou tão inútil, não tenho ânimo porque sinto que não existo para as pessoas. Dizem que não sirvo para nada, que não faço tarefas bem feitas, que sou lerdo e inútil. Como posso ser diferente e melhorar para ser mais apreciado? Preciso que me ensine o que fazer para que me valorizem mais?
O mestre zen, sem sequer olhar para o jovem, disse-lhe:
- Sinto muito meu jovem, mas de momento não tenho tempo para ajudar-te. A não ser que me ajudes primeiro resolver o meu próprio problema. Talvez depois eu possa resolver o seu problema.
Claro, em que posso ser útil? – Balbuciou o jovem que se sentiu mais uma vez desvalorizado e hesitou em ajudar o velho sábio.
O mestre zen olhou o rapaz nos olhos, faz uma pausa, e falou:
- Hum… se me ajudasses, eu poderia resolver um pequeno problema com mais rapidez e depois, talvez pudesse ajudar-te no teu.
O velho mestre tirou então um anel com um pedra brilhante, que usava no dedo pequeno, e deu ao jovem dizendo:
- Monta neste meu cavalo e vai até ao mercado, que decorre hoje na vila. Presta atenção ao que te vou pedir. Deves vender este anel porque tenho que pagar uma pequena dívida. Mas preciso que obtenhas pelo anel o máximo possível, mas não aceites menos que uma moeda de ouro. Vai e volta com a moeda de ouro o mais rápido possível.
O jovem pegou o anel e partiu. Mal chegou ao mercado, começou a oferecer o anel aos mercadores. Alguns olhavam com algum interesse, até ao momento em que o jovem dizia o quanto pretendia pelo anel. Quando o jovem mencionava uma moeda de ouro, alguns riam, outros viravam as costas sem sequer olhar para ele. Finalmente, um velhinho foi amável a ponto de explicar que uma moeda de ouro era muito valiosa para comprar aquele anel. Simpático, com o jovem e tentando ajudá-lo chegou a oferecer uma moeda de prata e uma xícara de cobre, mas o jovem seguia as instruções do velho mestre: não aceitar pelo anel menos que uma moeda de ouro. Assim, recusava as ofertas.
Calcorreou a feira de lés a lés e depois de oferecer a jóia a todos que passaram pelo mercado, abatido pelo fracasso montou no cavalo e voltou a subir a montanha.
Cabisbaixo, entrou na casa do mestre e disse:
- Mestre, sinto muito, mas é impossível conseguir o que me pediu. Talvez pudesse conseguir duas ou três moedas de prata, mas acho que não se possa enganar ninguém sobre o real valor do anel.
- Deveras interessante o que disseste, meu jovem, — contestou sorridente o mestre. - Mas primeiro devemos saber o verdadeiro valor deste anel. Quero pedir-te mais uma coisa, volta a montar no meu cavalo e vai até ao outro lado da montanha. Lá existe um joalheiro. Quem melhor do que um competente joalheiro para saber o valor exato deste anel? Não achas? – disse sorridente o velho mestre. – Vá lá agora e diz que queres vendê-lo e pergunta quanto ele dá por este anel. Mas, escuta o que te vou dizer, não importa o quanto o joalheiro te ofereça, não o vendas. Entendeste? Então vai perguntar e volta aqui com meu anel.
Por consideração ao velho mestre, o jovem lá foi até o joalheiro e entregou o anel para ele examinar. O joalheiro examinou-o com curiosidade, pegou numa lupa e admirou a pedra que encimava o anel, finalmente, pesou-o e disse ao jovem:
- Diga ao seu mestre que, se ele quiser vender o anel agora, não posso dar mais do que 50 moedas de ouro pela jóia.
O jovem surpreso exclamou: 50 MOEDAS DE OURO?!
- Sim, - replicou o joalheiro - eu sei que, com tempo, poderia oferecer sei lá, talvez cerca de 70 moedas de ouro, mas... se a venda é mesmo urgente...
O jovem montou o cavalo entusiasmado e cavalgou de volta para contar o ocorrido o mestre. O mestre zen, depois de ouvir tudo o que o jovem lhe contou, disse-lhe:
- Sabes meu jovem, tu és como esse anel, uma jóia valiosa e única. E, como tal, só pode ser avaliada por pessoas que saibam reconhecer o verdadeiro valor de outras pessoas. Qual é mesmo o teu problema? – perguntou o mestre com serenidade.
- Não é nada! – retribui o jovem que compreendia porque o velho mestre era respeitado e muito apreciado por todos.
- Então, por hoje, nada mais tenho-te a ensinar meu rapaz. - E dizendo isso voltou a colocar a anel no seu dedo.
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