O impossível acontece

Era um daqueles dias de sol escaldante de verão, quando o Swami Vivekananda desceu do trem na estação de Tari Ghat [norte da Índia]. Um manto tingido da cor ocre usual e um bilhete de terceira classe para uma estação um pouco mais alem, que alguém havia lhe dado, eram seus únicos pertences. Ele não possuía nem mesmo um jarro de água. Não lhe foi permitido pelo porteiro que ficasse dentro de abrigo da estação; como isso ele sentou-se no chão, encostando-se a um poste do abrigo de espera para os passageiros de terceira classe.

Da multidão heterogenia que ali se reunia, precisamos mencionar apenas um homem de meia idade da casta de comerciantes do norte da Índia, que se sentara sobre uma almofada de algodão um pouco mais distante sob a proteção do abrigo, quase na direção oposta ao swami Vivekananda. Percebendo como o Swami estava faminto e subalimentado, ele havia se divertido à sua custa quando viajavam no mesmo compartimento na noite anterior. E quando paravam em diferentes estações e o Swami Vivekananda, que sofria intensamente com sede, não podia obter água dos carregadores de água porque não tinha dinheiro para pagar por ela, esse rico comprou água para satisfazer sua própria sede. E à medida que bebia, atormentava o Swami, dizendo: ‘Veja só, meu bom homem, que bela água é esta! Sendo você um sannyasi [monge] e tendo renunciado ao dinheiro, não pode comprá-lo e com isso você tem o prazer de seguir sem ela.’

Esse homem não aprovava a vida monástica; não, ele não acreditava em renunciar ao mundo e ao dinheiro em troca de uma idéia. Em sua opinião estava muito certo que o monge passasse fome e assim, quando ambos desceram em Teri Ghat, ele redobrou-se em esforços para tornar claro ao Swami, por meio de argumentos, ilustrações e sarcasmos, que ele (o Swami) estava obtendo justamente o que merecia; pois o Swami estava ao sol ardente enquanto o comerciante havia se sentado na sombra. ‘Veja só’, começou novamente com um sorriso zombeteiro curvando os lábios, “que lindos puris e doces estou comendo! Você não se importa em ganhar dinheiro, por isso tem que se contentar com uma garganta ressecada e estomago vazio e o chão nu para se sentar.’ O Swami olhou calmamente, sem que um músculo de sua face se movesse.

De momento surgiu um dos habitantes locais carregando um pacote grande e um copo na sua mão direta, uma almofada debaixo do braço esquerdo e um jarro d’água na mão esquerda. Apressadamente estendeu a almofada num local limpo, colocou sobre ela os objetos que carregava e chamou o Swami: ‘Por favor, venha Swamiji, e coma o alimento que eu lhe trouxe.’ O Swami estava surpreso. Que significa isso? Quem era esse recém-chegado? O olhar zombeteiro do comerciante transformou-se num olhar de total espanto. O recém-chegado continuou insistindo: ‘Venha Swamiji, você deve vir e comer esse alimento.’ O Swami então disse: ‘Receio que esteja cometendo um engano, meu amigo. Talvez você esteja me confundindo com outra pessoa. Não me lembro jamais te encontrado ou conhecido antes.’ Mas o outro gritou: ‘Não, não. Você é o próprio Swamiji que vi.’ O Swami perguntou: ‘O que você quer dizer?’ enquanto seu companheiro zombeteiro sentado observava a cena. ‘Onde é que você me viu?’ O homem replicou: 'Ora, sou um vendedor de doces e estava tirando minha soneca habitual depois do almoço. E sonhei que o Senhor Sri Rama estava apontando você para mim e dizendo que Ele estava sofrendo ao vê-lo sem alimento desde o dia anterior; e que eu deveria me levantar de imediato, preparar alguns puris e curry, traze-los para você na estação ferroviária e uma almofada para que você se sentasse. Eu acordei, mas pensando que fosse apenas um sonho, vir-me-ei para o outro lado e dormi novamente. Mas Sri Rama, em Sua infinita graça, veio novamente, na verdade empurrou-me para que eu me levantasse e fizesse o que Ele ordenara. Rapidamente preparei alguns puris e curry e pegando alguns doces que havia preparado esta manhã, água fresca e uma almofada de minha loja, corri direto para cá e o reconheci de imediato à distancia. Agora, por favor, venha e coma enquanto está fresco. Você deve estar muito faminto.’

O Swami agradeceu o seu anfitrião humilde com todo seu coração, enquanto lagrimas de amor fluíam de seus olhos. Mas o bom homem protestou dizendo: ‘Não, não, Swamiji! Não agradeça a mim. Tudo é a vontade de Sri Rama.’ O zombeteiro comerciante estava totalmente boquiaberto. Pedindo perdão do Swami pelas palavras rudes que havia usado com ele, prosternou-se aos seus pés. Quando Deus protege, quem pode matar?

Fonte: Vedanta

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