Canção da certeza perfeita

Prostro-me a Marpa, o perfeito.

Sou o yogi que percebe a verdade última.
Na origem do não-nascido, obtive a certeza pela primeira vez;
No caminho da não-extinção, lentamente aperfeiçoei o meu poder;
Com símbolos e palavras cheias de significado,
Fluindo de minha grande compaixão,
Entôo agora este canto
Do reino absoluto da essência do Dharma.

Devido ao karma maligno que criaram,
À densa cegueira e à obstrução impenetrável,
Vocês não podem compreender o significado da verdade última.
Portanto, escutem a verdade conveniente.

Nos antigos e imaculados sutras,
Todos os buddhas do passado têm repetidamente
Nos advertido sobre a verdade eterna do karma.

Cada ser senciente é seu próprio paciente;
Esta é uma verdade eterna que nunca falha.

Escutem atentamente o ensinamento da compaixão.
Eu, o yogi, evoluo através de minhas práticas;
Sei que os obstáculos externos são apenas sombras chinesas
E que o mundo fantasmagórico
É um jogo mágico da mente não-criada.

Ao olhar para dentro da mente,
Vê-se a sua natureza, sem substância, intrinsecamente vazia.

Através da meditação em solidão,
Obtém-se a graça da sucessão dos mestres
E o ensinamento do grande Naropa.

A verdade interior do Buddha deve ser o objetivo da meditação.

Pela instrução misericordiosa de meu grande mestre,
Compreendi o abstrato significado interior do tantra.

Através das práticas da yoga de geração e perfeição,
Engenha-se o poder vital e se realiza a razão interior do microcosmo.

Por isso, não tenho os obstáculos ilusórios do mundo exterior.

Pertenço à grande linhagem divina,
Junto de imensuráveis yogis, tão vastos como o espaço.

Se, em sua própria mente, você reflete
Sobre o estado original da mente,
Os pensamentos ilusórios se dissolverão por si mesmos
No reino do dharmadhatu.

Não haverá quem cause aflição, nem quem seja afligido.
Um estudo exaustivo dos sutras
Não poderá nos ensinar mais do que isto.

Milarepa
Jetsün Mila - O Poeta do Tibet

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