Meditação passo a passo

Sakyong Mipham Rinpochê, líder da linhagem Shambhala do budismo tibetano, ensina todos os detalhes da meditação para você.

Sakyong Mipham Rinpochê, 39 anos, pratica arco-e-flexa a cavalo, é mestre em caligrafia tibetana e conhece profundamente o antigo idioma sagrado dos indianos, o sânscrito.
Como líder espiritual da linhagem Shambhala, recebe o tratamento de príncipe.

Ao mesmo tempo, estudou em colégios ingleses, mora no Canadá e se sente perfeitamente à vontade no Ocidente. Essas duas influências opostas o tornam um grande mestre de meditação: ele conhece as dificuldades que uma pessoa comum pode ter enquanto medita, como também sabe de todos os recursos das tradições orientais para ajudá-la nesse processo.

Em visita ao Brasil em março deste ano, Sakyong falou sobre essa prática espiritual num bate-papo com os internautas de Bons Fluidos.

Também ensinou aos brasileiros os princípios de uma técnica básica, chamada de shâmatha, que você pode praticar em casa.

"As pessoas precisam compreender que a meditação não é só ficar parado e sentado por anos a fio. Meditamos para conhecer quem somos, a natureza real de nossos pensamentos e emoções", diz ele. Para Sakyong, com essa prática podemos nos abrir para sentimentos como o amor e a compaixão.

"Meditar ajuda a despertar nossa natureza mais essencial, que é amorosa e iluminada", afirma com convicção.

Existem vários tipos: de olhos abertos ou fechados, no claro ou no escuro, em posição sentada ou até caminhando. Elas podem incluir mantras (palavras sagradas), mudras (gestos sagrados) e visualizações.

Mas, na tradição Shambhala, começa-se com uma técnica básica, chamada de shâmatha (que significa "apoiando-se na calma", em sânscrito). Acompanhe a seguir o passo-a-passo.

Dezessete passos para tranqüilizar a mente

1. Escolha um lugar calmo, onde você se sinta bem e confortável. É preferível que você medite sempre no mesmo espaço todos os dias - o hábito ajuda você a manter a prática diária.

2. Se desejar, pode fazer ao lado de um pequeno altar com imagens de sua devoção, cristais, flores e incenso. Mas, se você não tiver espaço para isso, não tem importância: sua prática não será prejudicada.

3. O melhor horário para fazer a meditação é logo ao acordar, depois da higiene matinal e antes do café da manhã. Logo cedo, a mente está mais calma. Nos momentos que antecedem a ela, procure deixar suas preocupações de lado e, principalmente, evite pensar nos compromissos do dia. Agora é hora de silenciar e ganhar energia.

4. Sente-se numa cadeira com as costas retas ou numa almofada mais dura com as pernas cruzadas, se tiver acostumado a isso. Ajuste o corpo e tente ficar relaxado.

5. Procure ficar com coluna reta, sem forçá-la. Assim as energias circulam corretamente em todo o corpo. No Oriente, o ser humano é considerado uma ponte entre o céu e a terra, e o bom posicionamento da coluna facilita a conexão entre as energias celestes e terrestres.

6. Encaixe a cabeça no topo da coluna. Traga o queixo um pouco para trás de modo que a cabeça fique em linha reta, nem inclinada para frente nem jogada para trás. Deixe a língua relaxada na boca, com a ponta atrás dos dentes inferiores. Coloque as mãos, bem soltas, sobre as coxas.

7. Olhe para um ponto no chão a cerca de 1,5m a sua frente. Sua visão deve ficar imóvel. Uma das maneiras de tranqüilizar a mente é dar a ela um objeto de atenção fixo, como o olhar e a respiração. Nas meditações em grupo, um sininho ou um gongo anunciam o começo e o fim da prática. Em casa, ela começa quando você se sentir preparado para iniciá-la.

8. Preste atenção na sua respiração, no ar que entra e sai. Não interfira em seu ritmo, apenas preste atenção. A respiração será o seu apoio principal, as rédeas que vão controlar sua mente.

9. Se perceber que suas emoções ou pensamentos já voaram para longe, gentilmente, mas com firmeza, volte a atenção para a respiração. Quando perceber um pensamento, apenas diga para você mesmo: "Pensando". Com essa "etiqueta mental", você percebe que existe um espaço entre você e suas preocupações.

10. Ver seus pensamentos é uma ação inédita para sua mente. É como sair de um rio turbulento, turvo, e ver que você é muito mais do que ele. Algo se separa. Desta nova perspectiva, você pode perceber como esteve submerso no rio de suas idéias sem perceber.

11. Ao distanciar-se dos pensamentos e vê-los de longe como nuvens que passam, você perceberá o quanto a mente é espaçosa e cristalina. No começo, você terá essa sensação apenas em breves segundos. Depois, a sensação de calma e pureza começa a durar mais tempo. Consciente do espaço que existe entre você e sua atividade mental, você passa a observá-los - e assim eles se acalmarão. Você os verá de longe, como quem olha um cavalo que come sereno no pasto.

12.Os pensamentos ainda insistirão em voltar, são como um potro selvagem que não quer ser domado. Aquilo que chamamos ego quer retornar para assumir seus pensamentos e preocupações.

13. Continue apenas prestando atenção na respiração. Se pensar, coloque a etiqueta "pensando" e volte à respiração. Sinta o corpo ir relaxando, mas mantenha a postura. Depois do combate inicial, a tendência natural da mente é ir se aquietando, aquietando...

14. Comece a meditar entre dez e 15 minutos por dia. Chegue aos 20 e se conseguir, depois de algum período de prática, chegue aos 40 ou 50 minutos. Você também poderá praticar na hora de dormir por mais 20 minutos ou meia hora.

15. Você sairá da meditação em outro estado. As emoções e os pensamentos estarão mais tranqüilos e sua mente estará mais alerta. A acumulação dessa força fará muito bem a sua saúde. É como se você se encharcasse cada vez mais de boas e sutis energias.

16. Disciplina e constância são necessárias - a meditação é uma prática diária. Para isso acontecer, é preciso se convencer dos benefícios dela - e eles realmente acontecem ao longo do tempo.

17. Procure se ligar a algum grupo que pratique meditação ao menos uma vez por semana. Assim fica mais fácil manter a disciplina.

Texto: Liane Camargo de Almeida Alves

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